29 de setembro de 2011

Um Apólogo

Machado de Assis


Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?

— Deixe-me, senhora.

— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.

— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.

— Mas você é orgulhosa.

— Decerto que sou.

— Mas por quê?

— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?

— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?

— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...

— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...

— Também os batedores vão adiante do imperador.

— Você é imperador?

— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...

Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:

— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...

A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.

Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:

— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.

Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:

— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.

Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:

— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!


Texto extraído do livro "Para Gostar de Ler - Volume 9 - Contos", Editora Ática - São Paulo, 1984, pág. 59.

12 de setembro de 2011

11 Dicas de resiliência

Competência em voga no mundo corporativo, a resiliência pressupõe o fim da passividade no dia-a-dia, explica o diretor da Entheusiasmos Consultoriaem Talentos Humanos, Eduardo Carmello, em seu livro "Resiliência - A transformação como ferramenta para construir empresas de valor" (Ed. Gente).

Segundo ele, o padrão "natural", ou seja, o comportamento da maioria das pessoas, é esperar as coisas acontecerem para, depois, fazer algo a respeito. Nas empresas, essa tendência se traduz em uma atitude passiva na resolução de problemas, uma vez que muitos profissionais esperam que dificuldades venham à tona para, então, buscar meios de lidar com elas. "Parece mais fácil apagar um incêndio do que evitá-lo!".

Para muitos, resiliência é a capacidade de resistir a barreiras e dificuldades, de forma bem-sucedida. Mas Carmello diz que resiliência é muito mais do que isso. Trata-se de uma competência que envolve a capacidade do profissional de enxergar lá na frente, prever problemas e, mais importante, preparar-se para eles.

Como ser resiliente no dia-a-dia

"Pessoas resilientes são aquelas que dispõem de respostas e ações eficientes, harmoniosas e refinadas quando se deparam com qualquer exigência profissional e pessoal. Porém, ser resiliente não significa ser invulnerável, onipotente. O benefício de ser uma pessoa que se apresenta constantemente como um protagonista diante das adversidades consiste em experimentar e adquirir a sensação de confiança, êxito e evolução que existe na busca do constante aperfeiçoamento", explica Carmello.

Confira 11 dicas para fomentar a resiliência no dia-a-dia, apontadas pelo diretor:

• Procure, na medida do possível, protagonizar as situações: no lugar de perguntar "Por que isso foi acontecer comigo?", experimente dizer para si mesmo: "Como eu me coloquei nessa situação" e "O que posso aprender ou utilizar como recurso para sair dela?". Protagonizar é incluir-se na situação como co-responsável, encontrando formas de superá-la;

• Visualize o futuro próximo e antecipe tendências e acontecimentos: imaginação e intuição orientadas são ótimos atributos para fazer frente às constantes transformações de cenário, mercado e tendência;

• Crie um significado para a sua realidade: um significado lhe dará a esperança de um futuro melhor; a esperança não é a expectativa de que algo dê certo, mas a expectativa de que algo faça sentido;

• Procure conhecer a verdadeira dimensão do problema: procure informações objetivas e específicas, evitando a comunicação informal, e o "boato", que, em regra, só alimenta a tensão e o desespero;

• Separe a identidade das pessoas do que elas fazem: bons pais, ou bons líderes, ao verem seu filho jogando uma pedra num cachorro, não dizem que ele é um menino ruim, mas falam: "Não gostei do que você fez agora". Ou seja, eles separam a identidade da ação específica. Ao ser repreendido por um líder, saiba que ele desaprova a sua ação, não a sua identidade;

• Procure desenvolver relacionamentos significativos: é importante ter pessoas com as quais você possa conversar e discutir sobre seus problemas, sem julgamento, interpretação ou moralidade;

• Aprenda a ter uma "mente solucionadora": utilize o tempo que gastaria em justificativas, esquivas de culpa, reclamações e burocracia para resolver o problema;

• Reconheça seus sentimentos e as necessidade de seu corpo: permita-se chorar, sentir dor, dormir, descansar, recuperar-se e retornar ao seu estado de excelência;

• Tenha como parceiro constante a criatividade no pensamento, nos sentimentos e nas ações: os maiores conflitos são causados por ideias ou ações rígidas, inflexíveis;

• Cultive e valorize seu poder de escolha: o resiliente, em essência, é aquele que luta pelo direito de decidir como vai interpretar as situações da vida e o que fazer a respeito;

• Gerencie as adversidades como situações passageiras: o que está acontecendo de ruim com você não é a vida, mas uma circunstância da vida. Entenda que a vida é muito mais do que a adversidade pela qual está passando.